quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014


 
Eugénio de Andrade

Portugal
 1923 // 2005

Poeta


Urgentemente


 

É urgente o amor
É urgente um barco no mar
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.
Eugénio de Andrade, in “Até Amanhã”




Luís Vaz de Camões 

Portugal 
1524 // 1580 
Poeta

 
Amor é um Fogo que Arde sem se Ver
 
 

 
 
Amor é um fogo que arde sem se ver;
 É ferida que dói, e não se sente;
 É um contentamento descontente;
 É dor que desatina sem doer.
 É um não querer mais que bem querer;
 É um andar solitário entre a gente;
 É nunca contentar-se e contente;
 É um cuidar que ganha em se perder;
 É querer estar preso por vontade;
 É servir a quem vence, o vencedor;
 É ter com quem nos mata, lealdade.
 Mas como causar pode seu favor
 Nos corações humanos amizade,
 Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
 




Florbela Espanca
Portugal
1894 // 1930
Poetisa


Amar!
 
 
 
 
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"





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