sábado, 16 de abril de 2016

Viriato, o Herói Nacional da Lusitânia:
“A celebração da Banda Desenhada”



Viriato é um “herói nacional lusitano” Indiscutível. No entanto pouco sabemos realmente sobre esta figura heroica. No seu tempo foi um dos mais destacados líderes da resistência lusitana, em guerra contra exércitos mercenários ao serviço de impérios e potências estrangeiras, principalmente contra Roma e os romanos, antepassados da atual elite dirigente portuguesa.
Viriato terá sido um líder escolhido pelos chefes das comunidades tribais, pequenas repúblicas e principados que formavam a antiga Confederação dos Povos da Lusitânia, para encabeçar a luta do povo nativo lusitano pela liberdade e a da Lusitânia pela independência.
Viriato terá sido também o primeiro grande Iberista a lutar pela unificação dos povos de toda a Ibéria livre dos seus reis, caciques e estados opressores. Viriatus não foi o único líder nacional ou herói lusitano, muitos outros a Lusitânia livre teve, como Punicus, Caesarus, Caucenos, Curius, Apuleius, Connoba e Tantalus, entre muitos outros homens e mulheres anónimas que lutaram de armas na mão contra exércitos mercenários invasores.
Pouco se conhece sobre a real vida de Viriato. Não se sabe a data nem o local exato onde nasceu (não há provas documentais históricas, nós baseamo-nos na tradição local) e a única referência à localização da sua tribo nativa foi feita pelo historiador grego Diodoro da Sicília que afirma que ele era das tribos Lusitanas que habitavam do lado do oceano. Viriato era, segundo a teoria avançada por Schulten, e corroborado por outros investigadores, oriundo dos altos Montes Hermínios, atual Serra da Estrela (perto do lado do oceano, portanto), embora nenhum autor da antiguidade o tenha mencionado.

O historiador grego Diodoro, da Sicília, citou-o assim: "Enquanto comandava, ele foi o mais amado do que alguma vez alguém fora antes dele". Aliás, Viriato pertencia à nobreza lusitana e não era um simples pastor. Pastor sim, porque tal como outros nobres (não só da Lusitânia), era dono de rebanhos. De qualquer modo, nos escritos recentes, a grande obra, mais completa, pesquisada e analisada é "Viriato, a Luta pela Liberdade", de Mauricio Pastor Muñoz, sob edição Ésquilo.”

Viriato é tão respeitado e admirado em Portugal como em Espanha, pois a Lusitânia albergava o território português até ao rio Douro e a Estremadura espanhola, e teria como capital a atual cidade de Mérida. Há famosas estátuas de Viriato em Viseu e em Zamora.
A cidade de Viseu tornou-se referência lendária do herói, devido em grande parte à denominação dada ao monumento arqueológico em forma de octógono, intitulado Cava de Viriato (século XVI), considerado hoje mais relacionado com um acampamento militar romano do século II ou I A.C. com ocupação árabe posterior. Frente a este monumento existe o conjunto escultórico de Viriato (fotos acima).

Porquê festejar Viriato na Banda Desenhada?

Viriato pertencia à classe dos guerreiros, não por linhagem (esta era a ocupação da elite aristocrática lusitana, a minoria governante), mas por adoção, já que ele teria nascido pastor, sendo reconhecido bastante jovem pelo seu sentido de justiça, pelo cumprimento à palavra dada e por ter subido na vida a pulso, pela bravura demonstrada e pela nobreza do seu carácter. Ora tudo isto é bem demonstrativo das suas origens humildes, apologia das origens humildes do nosso passado como povo e como nação. Festejar Viriato é cultivar os valores da honra e da justiça, da luta por ideais.

“Valente e destemido, cumpridor da sua palavra e exemplar na sua austeridade no modo de viver, desprezava as riquezas  e as grandes comezainas (vários autores da época registaram bem o desdém que demonstrou ante a pompa do seu casamento). Exemplar até hoje, gigantesco como dirigente capaz do seu amado povo, bem próximo do exemplo de Pelópidas (da grega Tebas, segundo os escritos de Plutarco), nos dias de hoje contam mais as lendas que a realidade histórica a seu respeito.
E muito se tem escrito sobre Viriato, sempre com fantasias e conclusões românticas. Até o francês Pierre Corneille escreveu em 1662, a tragédia "Sertorius", onde figura Viriate (Viriata), imaginada filha de Viriato!!!... “
A Banda Desenhada não poderia esquecer o grandioso herói que se instalou na tradição cultural viseense. O GICAV escolheu José Garcês para honrar o herói, reeditando em formato de revista uma história de décadas publicada prancha por prancha na Revista “Cavaleiro Andante” (entre 28 de junho de 1952 e 21 de fevereiro de 1953, n.ºs 26 a 60). É para o GICAV uma honra e um evento ímpar tornar possível devolver aos viseenses e amantes da banda desenhada este singelo tesouro da nossa arte aos quadradinhos. Esta edição “reconstruída” (pela persistência e génio do Carlos Rico) complementa a edição em exposição itinerante da esmagadora maioria da obra editada em banda desenhada sobre este herói lusitano.

Nas memórias da Banda Desenhada, é de Portugal que mais exemplos conhecemos até ao momento, pois da parte espanhola apenas sabemos de dois (mesmo assim não devidamente documentados) e da parte belga apenas um trabalho. Luiz Beira e Carlos Rico identificam, em relação a Portugal, os seguintes trabalhos:
- EUGÉNIO SILVA E PEDRO CARVALHO: "Viriato", em duas pranchas, para um livro escolar de História de Portugal da 4.ª classe - 1972.
Em História de Seia, Âncora Ed.  (1999), 2 pranchas.

- JOSÉ GARCÊS: "Viriato", em 33 pranchas, publicado no "Cavaleiro Andante" a partir do n.º 27 (com a capa no n.º anterior). Foi muito mais tarde reeditado no já extinto semanário "Jornal de Almada" (que se reúne nesta publicação, em homenagem também ao decano da BD portuguesa); em  História da Guarda, Âncora Ed. (1999), 2 vinhetas. Ilustrou, também, uma pequena biografia de Viriato, numa só prancha, publicada no "Camarada" #16 (1958); com A. DO CARMO REIS na "História de Portugal em BD", volume 1 - 1987, como não poderia deixar de ser, a figura de Viriato tem lugar de destaque.

- PEDRO CASTRO: "Viriato", em 15 pranchas, no n.º 1 da coleção de fascículos "Herói", 1985.
- JOSÉ SALOMÃO: "Viriato, o Pastor dos Montes Hermínios", álbum editado pelo jornal "O Emigrante", 1972.
- VICTOR MESQUITA: "Viriato", com 25 pranchas (capa incluída), publicado na revista "Jacto" N.º 37-48; 1972-1973.
- JOÃO AMARAL E RUI CARLOS CUNHA: "A Voz dos Deuses", álbum adaptado do romance homónimo de João Aguiar, pelas edições Asa.
- BAPTISTA MENDES: "Viriato", em uma prancha, publicada em 1963, no "Pim-Pam-Pum". Viriato, in Jornal do Exército nº 5 (1960), 1 prancha
- ARTUR CORREIA E ANTÓNIO GOMES DE ALMEIDA: "Viriato", em 14 pranchas, episódio incluído no álbum "Os Super-Heróis da História de Portugal - 1", pelas edições Bertrand.
- ARTUR CORREIA E MANUEL PINHEIRO CHAGAS: no 1.º volume da "História Alegre de Portugal" - Bertrand 2002, algumas pranchas foram dedicadas a este herói.
- CRISÓSTOMO ALBERTO: também na linha humorística, Viriato, aparece em largo número de pranchas no álbum "No Tempo dos Lusitanos", publicado pelas Edições Asa-1978.
-  C. A. Louro da Fonseca, Viriatus in Boletim de Estudos Clássicos nº14 e nº 16 (1990-1991), em latim

- José Pires, História de Gouveia, Âncora Ed.  (2001), 3 pranchas.
- João Eurico, Viriathus, The Roman Terror (2013-?), projeto de novela gráfica inacabado.
J- HION (João Amaral) E GUS PETERSON (José Pires): "O Demónio Ruivo", 1.º episódio de "Guerras de Fogo", que se mantém inédito até hoje, aguardando que uma editora mostre interesse pela sua publicação.

Em Espanha:
- Manuel Gago, Viriato y la destrucción de Numancia, Heroicos Episodios de la Historia de España nº 2, Editorial Marco (1943)
- Manuel Gago, Viriato [versão inédita e inacabada], (s/d)
- Manolo, Viriato in Efemérides Gráficas nº 7, Gráficas Ricart (1958)
- Chuty / Alfonso Naharro, Viriato contra Roma [disponível na net], (s/d)
- [Ignacio González Diz], Viriato - Su Historia – 1ª parte, Ed. Glez Diz (2007)
- (?), Viriato in Manual publicado pelas Editions Hatier (2012?)

Sobre o Mestre  José Garcês: nasceu em Lisboa a 23 de Julho de 1928 e, ainda no ativo, é hoje o decano dos nossos desenhistas.  Cursou na Escola António Arroio de Lisboa. Para além da sua vasta e admirável obra pela Banda Desenhada, é um notável ilustrador e um meticuloso elaborador de construções de armar (Mosteiro da Batalha, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerónimos, etc.). Na região da Amadora, onde reside, há uma escola e uma avenida que, merecidamente, têm o seu nome.
Foi homenageado nos Salões de Sobreda, Moura, Viseu, Lisboa, Porto e Amadora. Falta aqui o de Beja e disso lhe perguntámos: "Beja?!... Não, Beja nunca me convidou".
A sua BD espalha-se pelos mais diversos periódicos, havendo muitas criações suas por recuperar e salvaguardar em álbum, donde títulos como "Viriato", "O Sargento-Mor de Vilar", "Xan Tung", "Caramuru", "O Terrível Espadachim", "Rumo ao Oriente", "Os Cavaleiros de Almourol", "Palo Quiri", "A Dama Pé-de-Cabra" e tantas e tantas mais.
Deu cursos de Banda Desenhada em Lisboa e nos Açores.
Álbuns com criações suas, há bastantes, como por exemplo: "Através do Deserto", os quatro volumes de "A História de Portugal em BD" (com uma edição em francês), "Bartolomeu Dias" (com uma edição em inglês), "Eurico, o Presbítero" (esgotado),  "Jardim Zoológico de Lisboa -125 Anos", "O Lince Ibérico", "O Tambor / A Embaixada", "História de Faro", "História de Olhão", "História da Guarda", "História de Oliveira do Hospital", "História de Ourém", "História do Porto" e "Cristóvão Colombo" (em dois tomos). Por sua vez, em miniálbuns (esgotados) foram recuperadas as histórias "O Falcão" (em "Cadernos de Banda Desenhada, Ed. Catarina Labey) e "Picaroto, o Baleeiro / Zé Miúdo" (em "Cadernos Sobreda BD", Ed. Grupo Bedéfilo Sobredense).

Este é um panorama geral e necessariamente resumido, da vida e obra deste grande mestre da 9.ª Arte Portuguesa. Em entrevista concedida ao blogue BDBD, José Garcês foi perentório face ao estado atual da Banda Desenhada:
BDBD: Que pensa das novas gerações da nossa BD?
JG - As jovens gerações, e não só, andam muito inflamadas com o computador. O computador "resolve" tudo. Quando pessoal como eu trabalha com o lápis, a pena e o pincel, recuso-me ao computador. O traço manual marca a personalidade do artista. O computador não tem essa personalidade. Aceitei as novas tecnologias, onde o computador faz, de facto, coisas maravilhosas, mas onde não há "aquela alma" que o traço manual regista. Com o computador perde-se o traço característico de cada artista.

BDBD: A BD Portuguesa está em crise?
JG - O País está em crise... A BD do nosso País reflete-se nessa mesma crise.


Os nossos profundos agradecimentos ao amigo e Mestre José Garcês, pela dedicada disponibilidade e colaboração, pela disponibilização do seu acervo artístico; ao amigo Carlos Rico, de Moura, pelo trabalho de recuperação, organização e paginação, também ao Luiz Beira, como primeiro inventor desta ideia, ao Dr. Luís Fernandes (Univ. Católica Viseu), bem como à Câmara Municipal de Viseu, ao IPDJ e à Junta de Freguesia de Viseu pelo apoio dado ao projeto.

Algumas obras representativas da importância dada à personagem histórica Viriato


Extrato de um soneto de Jorge Cardoso, inscrito no Agiólogo Lusitano (1442), provavelmente a primeira vez que em referência literária se associa a cidade de Viseu à figura de Viriato:

“Chego (cidade insigne) a contemplar-te
Viseu, de vinte séculos memorada
Que em tantos já florente, já prostrada,
Teatro foste de Minerva, e Marte.

Não poderá fortuna aniquilar-te
Pois sendo tantas vezes assolada
(qual Fénix entre as chamas abrasada)
Tornas das mesmas cinzas a levantar-te.

Eterniza a estampa teu retrato,
Do Letes a pesar teu sevo imigo
Mas que também se oponha a tempo ingrato.
És glória a Lusos, de Árabes castigo,
Seta de Afonso, triunfo de Viriato,
Berço a Eduardo, mármore a Rodrigo.
(…)

- Viseu … um futuro com passado;
- Inês Vaz, Lusitanos no tempo de Viriato (Ésquilo; 2009)
Ilustração original de José Garcês para a reedição de “Viriato”.

Síntese: Carlos Almeida/Departamento de Banda Desenhada - GICAV BD 2015

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.